Aquele dos obesos e dos nomes estranhos

Duas notícias me provocaram reflexão hoje. A primeira refere-se à obesidade e a segunda, à questão dos nomes que nós recebemos ao nascer.

Em tempos de profunda propagação da magreza na mídia, uma nova lei surge com a proposta de facilitar a vida da população obesa no Brasil. A partir de agora, já em vigor no DF, pessoas obesas não precisam passar pela catraca dos ônibus coletivos. Uma portaria do GDF determina que pessoas obesas podem pagar a passagem, girar a catraca e sair pela porta da frente do transporte coletivo. Até aí, tudo bem, ok. DE fato, quem é muito gordo encontra, sim, dificuldade para cruzar as catracas dos ônibus e até de sentar-se com conforto nos apertados bancos do veículo de uso coletivo. Entretanto,  tive conhecimento de uma outra lei, na qual fica determinado que pessoas com obesidade grave ou mórbida agora também tem atendimento preferencial em estabelecimentos comerciais, de serviços e similares e nas instituições financeiras do DF. A determinação acrescenta os obesos ao grupo de gestantes, pessoas acompanhadas de criança no colo, idosos com 60 anos ou mais e pessoas com deficiência. Sim, sei que a obesidade mórbida é uma doença séria que merece todo tipo de cuidado. O que me intriga é a maneira como a lei será tratada. Me pergunto: haverá nos locais uma balança que registre um peso pré-determinado para garantir o benefício. Porque, em se tratando de Brasil, será um prato cheio para alguns oportunistas tirarem proveito da situação. E mais: não seria este benefício um incentivo a mais para quem é gordo e não move uma palha para emagrecer. Sei que existe muita gente redondinha fazendo de tudo para se livrar do excesso de peso, mas há, sim, muitos gordinhos que não querem nem pensar na possibilidade de emagrecer e irão adorar essa nova facilidade.

A outra notícia é ainda mais polêmica. Pouca gente sabe, mas, se você tem um nome diferente e acha que ele prejudica sua vida, para evitar situações constrangedoras, a lei permite que, ao completar 18 anos, você mude o nome sem precisar de qualquer justificativa e sem nenhum custo. É preciso apenas ir até o cartório onde foi feito o registro. Quando eu era mais jovem, não gostava do meu nome. Achava Patrick muito diferente, pouco sonoro e, muitas vezes, até feio. Não conhecia outros com a mesma graça. Queria ter um nome comum, como Vinícius, Gustavo, Rodrigo, Pedro, Bruno, Tiago. Se eu soubesse dessa facilidade naquele tempo, certamente teria procurado trocá-lo. O que seria uma tremenda idiotice. Eu sou Patrick, nasci Patrick e morrerei Patrick mesmo que tivesse mudado de nome. Até porque, hoje vejo que não se trata de um nome ruim. Conheci outros Patricks e até inspirei algumas mães a batizarem seus filhos com este nome. Aí eu penso: quantos adolescentes atualmente passam pela mesma situação? Eles agora têm a oportunidade de fazer uma revolução em suas vidas com a garantia por lei de mudança de nome. Mas será que é uma decisão acertada? No colégio, tinha uma amiga que se chamava Alzira Ludovina, em homenagem à avó. Ela odiava seu nome ainda mais do que eu. Ok, para uma criança/adolescente, realmente é difícil a aceitação. Mas nada que um tratamento psicológico rápido não resolva. Já imaginou se ela tivesse mudado seu nome para, sei lá, Patrícia ou Priscila. Seria apenas mais uma. Alzira Ludovina é só ela, assim como foi apenas a sua avó.

A boa notícia é que essa facilidade dura apenas um ano, ou seja, até a pessoa completar 19 anos. Depois desse período, é necessário entrar com uma ação judicial, um pouco mais complexa. Normalmente, os casos aceitos são: quando a pessoa é testemunha em processo criminal e precisa trocar de nome para manter a segurança; quando o nome ou apelido utilizado é muito conhecido e a pessoa deseja acrescentá-lo à certidão ou substituir o primeiro nome; ou, ainda, quando causa constrangimento. Talvez seja o caso de pessoas que se chamam Anjo Gabriel, Ava Gina, Amável Pinto, Armando Guerra, Bucetildes, Colapso Cardíaco, Éter Sulfúrico, Hipotenusa, Marciano Verdinho, Madeinusa (ou Made in USA), Necrotério, Rolando Escadabaixo e Um Dois Três de Oliveira Quatro… Ou então aqueles que os pais se inspiram em nomes estrangeiros e acabam se confundindo na hora de escrever. É o caso de Hericlépiton (Eric Clapton) ,Jotacá (ou JK), Leididái (ou Lady Di), Oazinguinton (ou Washington) e Waldisney (ou Walt Disney).

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