Aquela da favorita com poucos favoritos

(Leia agora o texto que escrevi sobre o fim da novela A FAVORITA, mas que, por descuido, acabou não sendo publicado na época.)

Durante oito meses, Flora e Donatella disputaram o posto de favorita do público brasileiro. Tudo bem que Donatela foi revelada como a mocinha injustiçada da trama, mas a favorita mesmo – sem dúvida – foi Flora. Patrícia Pillar voltou ao horário nobre depois de 12 anos – quando conquistou o Brasil no papel da bóia-fria Luana – e confirmou o seu enorme talento ao viver uma das personagens mais complexas da teledramaturgia brasileira. Flora começou a novela com ares de mocinha sofredora, ex-presidiária injustiçada e mãe amorosa em busca do perdão da filha, mas, aos poucos, foi se revelando uma assassina fria, cruel e sem sentimentos. A novela foi dela, não há dúvidas. Flora Pereira da Silva figura hoje no rol das vilãs mais ardilosas das novelas, fazendo com que a horrível Odete Roitman, de “Vale Tudo”, se sinta uma reles senhora má. Já a Donatela de Cláudia Raia será apenas mais uma mocinha.

“A favorita” chegou ao fim confirmando o nome do autor João Emanuel Carneiro, em sua estréia no horário nobre, como um dos grandes autores da Rede Globo. Entretanto, não há como passar por cima: a novela apresentou inúmeras falhas de roteiro. Os personagens masculinos principais foram massacrados diante da magnitude das protagonistas – onde se encaixa, ainda, Mariana Ximenes, intérprete de Lara, “a filha da mãe”. Nem o mocinho Zé Bob (Carmo Dalla Vechia) nem o vilão Dodi (Murilo Benício) demonstraram consistência diante da dupla formada por Flora e Donatela. Do lado masculino, somente Halley (Cauã Reymond) se destacou, após a reviravolta em sua vida ao se envolver com Lara e descobrir-se o filho seqüestrado de Donatela e Marcelo Fontini. Com isso, o galãzinho Cassiano (Thiago Rodrigues) foi só perdendo a pouca força que tinha. Por sua vez, José Mayer fez do seu Augusto César o personagem mais patético da trama – embora tenha feito um gol ao fugir da imagem de garanhão que sempre marcou sua carreira. Nem Tarcísio Meira escapou do ostracismo nesta novela, perdendo feio para Mauro Mendonça, que deu um banho de cena no colega.

Esta foi, aliás, uma novela que desmereceu muitos grandes nomes – diria estelares até – de seu elenco. Giulia Gam, Ângela Vieira, Milton Gonçalves, Taís Araújo, Deborah Secco (eu sei, há controvérsias), Chico Diaz e Christine Fernandes são alguns desses exemplos. Em tramas paralelas, cada um desses bons profissionais não teve sequer chance de mostrar o bom trabalho que sabem desempenhar por conta de um texto fraco, sem consistência. Por outro lado, Ary Fontoura, Lília Cabral, Jackson Antunes, Suzana Faini e Leonardo Medeiros encheram a tela com talento, carisma e verdade. Ao lado de Patrícia Pillar, esses, sim, foram os favoritos e dificilmente serão esquecidos.

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